Proprietário da RH Soluções Artísticas, o ator e diretor fala do Grupo Cênico Estudarte, do trio musical As Sublimes, da peça A Última Carta, de sua Oficina de Atores, de livros, da Academia Volta-redondense de Letras e dos projetos Pequenas Leituras e Quadrinhos Falados
Um artista com criatividade fora da curva. Com um currículo eclético, o multifacetado ator Rodrigo Hallvys administra a concorrida agenda da RH Soluções Artísticas, empresa que fundou em 2012 e trabalha com artes cênicas, literatura e música. Áreas que são reflexos do aprendizado em seus trinta e quatro anos de carreira.
Sua iniciação no teatro ocorreu quando tinha nove anos de idade, momento em que percebeu que a função de ator era o que queria seguir e seu hábito de leitura e a habilidade de analisar detalhes ficaram a cargo de prepara-lo para uma carreira diferente sem que o próprio artista percebesse.
Durante sua jornada são vários prêmios, certificações, moção de congratulações, troféus e uma cadeira na Academia Volta-redondense de Letras, instituição que representa o letramento em sua cidade natal.
Em uma entrevista descontraída, ele explica um pouco de como as coisas foram acontecendo em sua trajetória e currículo, que é bastante extenso.
VITRINE DA FAMA – Como você teve seu primeiro contato com a arte?
RODRIGO HALLVYS – Foi através do desenho. Aparentemente minha garatuja (uma das fases do desenho na primeira infância) durou menos de duas semanas. Estava com três anos de idade quando fiz meu primeiro desenho figurativo. Foi a Mulher-Maravilha. Lembro que cheguei na sala e mostrei para a família. Todo mundo reconheceu! Não precisei explicar o desenho. Ali tive a certeza que queria trabalhar com arte e falei que, quando adulto, seria “desenhista de gibi”. A Mulher-Maravilha foi a causa do meu início na arte e também na escrita, porque nunca gostei de esperar as pessoas terem disponibilidade e disposição para fazerem as coisas para mim. Então pedi para meus pais me ensinarem a ler, assim não precisaria que alguém lesse as histórias em quadrinhos para mim. Assim aprendi a ler e, claro, escrever.
VF – Então foi bem precoce!
RH – Dentro de um aspecto comum, sim! Exercitando a criação de roteiros, cenários e figurinos e não fazia ideia disso. Era muito criança para ter essa consciência.
VF – E com o teatro? Como aconteceu?
RH – Parte da minha família é de origem católica. Então, obviamente, quando criança era levado à igreja. No meu primeiro dia de catequese foi dada uma dinâmica cênica. Era necessário pegar um assunto, transformar em roteiro, criar os argumentos e falas, ensaiar e fazer a cena. Foi ali que percebi que os quadrinhos carregavam roteiro, falas e cenas das personagens. Um universo se abriu na minha mente e muita coisa passou a fazer sentido. Entendi que teatro é uma arte completa. Decidi que queria seguir a carreira de ator.
VF – Acredita que o hábito da leitura contribuiu?
RH – Sem dúvida! Meus pais terminaram o Ensino Médio já adultos, casados e após meu nascimento. Cresci os vendo ter o hábito da leitura. Passamos dificuldades e mesmo assim nunca nos deixaram faltar leitura em casa. Eles sempre argumentaram que o melhor que poderiam deixar para os filhos seria conhecimento. A leitura expande a mente, a criatividade, a argumentação e, claro, a possibilidade de lidar com diversas situações.
VF – Foi então que você pensou em escrever livros?
RH – Não. Meus livros vieram já na fase adulta, com mais de trinta anos de idade. Na adolescência e no início da fase adulta só escrevia roteiros para teatro e letras de músicas. O primeiro livro veio de uma tentativa de casamento que acabou não acontecendo, fato que gerou os livros seguintes também. (risos)
VF – Sobre música. Como começou sua história com As Sublimes?
RH – Poxa! Isso é muito assunto para contar. Vou tentar resumir. Era 1993. Em um domingo à noite estava em casa com a família, entrei na sala e meus pais estavam assistindo o Fantástico, da Rede Globo. Estavam anunciando o videoclipe da música Boneca de Fogo, que foi a primeira lançada pelo trio. Fiquei encantado. Não piscava. Era um grupo feminino, apenas de mulheres negras, cantando soul music em língua portuguesa. Simplesmente era tudo que eu achava incrível em um único videoclipe. Lindas, com harmonia vocal, visual bacana e uma música deliciosa de se ouvir. Na semana seguinte, lendo jornal, comecei a perceber que elas estavam saindo em tudo quanto é mídia impressa, tocando a música toda hora na rádio e aparecendo em diversos programas de televisão. Vi um mundo social modificado por causa delas. Não existia um grupo feminino formado só por mulheres negras com tal sucesso no Brasil. Era representatividade em uma época que nem se usava a palavra representatividade. Passei a colecionar tudo sobre elas. Criei um arsenal de material sobre As Sublimes.
VF – E hoje você é proprietário da marcar registrada que leva o nome do grupo?
RH – Sim! Em verdade foi por isso que a RH Soluções Artísticas foi criada, em 2012. Quando o grupo foi desmanchado, em 1998, fiquei incomodado. Não era problema entre as cantoras e muito menos falta de sucesso do trio. Foram questões no mundo musical. Então prometi para mim mesmo que traria As Sublimes de volta em algum momento. Com o advento da internet passei a ter contato com fãs dentro e fora do Brasil e disponibilizei cópia de todo material impresso que eu tinha como colecionador. Foi o carinho dos outros fãs que me impulsionou. Acabei por conhecer cada uma delas e ficamos amigos. Então comentei da minha ideia de trazer uma nova formação e tive a benção das cantoras que já fizeram parte.
VF – Começou como um trio, certo?
RH – Sempre foi um trio. A primeira formação teve Lilian Valeska, Isabel Fillardis e Karla Prietto, que gravaram o primeiro álbum. Depois a Isabel precisou sair por incompatibilidade na agenda que ela tinha com novelas, pois estava fazendo com que ela perdesse muitos shows. Aí entrou a Flávia Santana, que seguiu com a Lilian e a Karla e gravaram o segundo disco. Elas estavam fazendo turnê do segundo álbum quando foram atingidas por questões no mundo da música. E já tinham duas músicas gravadas para o terceiro álbum, que também receberia “Eu não vou”, composta por Karla, Flávia e Paulo Santana. Foi gravada pelo Fat Family e fez um sucesso estrondoso também.
VF – E como está o projeto de remontagem do grupo?
RH – Tivemos uma tentativa de formação e chegamos a lançar uma música com videoclipe em 2021. Mas a pandemia durou muito mais tempo do que era previsto. Foram dois anos com tudo parado e não tinha como fazermos eventos e shows. Em um determinado momento os objetivos acabaram não sendo mais os mesmos. Então o projeto acabou sendo engavetado e as integrantes selecionadas seguiram seus caminhos. Hoje estão vivendo de suas artes em trabalhos diferentes. Isso é muito bom! Porque a arte não pode parar!
VF – Mas ainda pretende fazer o grupo voltar?
RH – A marca é de minha propriedade. O sonho adormece, mas não morre, creio. Então na hora certa a gente vai encontrar uma forma de fazer.
VF – Mas a RH Soluções Artísticas não tem apenas o trio como projeto, certo?
RH – Certo! Como minha graduação foi em Teatro e minhas três especializações são em arte e cultura, o carro chefe da empresa é preparação de atores e todos os trabalhos voltados às artes cênicas. Inclusive o Estudarte é também uma marca registrada oficialmente pertencente à empresa.
VF – E como aconteceu o Estudarte? O grupo já tem mais de vinte anos de estrada!
RH – Sim! São vinte e um anos desde sua fundação, que aconteceu de forma despretensiosa. Meu irmão caçula, Diego Machado, estava cursando o Ensino Médio e o Técnico em Publicidade. Ele era muito tímido. A professora de Literatura do colégio em que ele estudava perguntou aos alunos se queriam fazer prova ou apresentar trabalho. Eles eram adolescentes! Claro que disseram preferir trabalho. Foi aí que ela encomendou uma peça de teatro para que eles escrevessem, ensaiassem e apresentassem no fim de março de 2003. Eu havia acabado de sair da televisão e meu irmão pediu auxilio para fazer os ensaios funcionarem. Resultado: três sessões de apresentação da peça e convites para fazermos uma turnê intercolegial. Batizei o grupo de Estudarte e o que era grupo de adolescentes hoje é uma roupagem de atores de dezesseis a setenta anos. Não imaginávamos que aconteceria isso tudo.
VF – O que você acredita que seja o segredo para o sucesso do grupo?
RH – A vontade de falar sobre temas cotidianos e propor reflexão em cada espectador. Coexistir e respeitar. Compreender que as leis são iguais para todos, mas as pessoas são diferentes e precisam ser respeitadas por isso. De alguma forma a plateia se familiariza. É o que acontecesse com todos os projetos do Estudarte, inclusive a Oficina de Atores.
VF – A oficina é onde os atores são preparados para cada projeto?
RH – Sim! Por exemplo, temos o “Pequenas Leituras”, que foi criado em 2019 para potencializar a criatividade vocal dos atores da oficina, enquanto eles também se preparam para enfrentar as peças e os festivais. O Estudarte participou de todas as edições do festival de artes integradas “ReVolta com Poesia”, apresentou o festival “Quase Lá!” e já fez onze festivais de teatro durante seu tempo de fundação. O grupo tem mais idade do que a própria RH Soluções Artísticas e a nossa oficina possui quatro turmas instaladas no Teatro Gacemss, em Volta Redonda.
VF – E sobre o projeto Quadrinhos Falados?
RH – Talvez seja aquele Rodrigo, que ainda não era Hallvys, colocando em prática seu amor pelos quadrinhos. Será um projeto que reunirá várias séries animadas, de forma bem simples, estamos em pré-produção, envolvendo diretamente o elenco do Estudarte.
VF – É neste projeto que vem o desenho das aventuras?
RH – Exatamente! A primeira série se chama “As Aventuras de Carpulicam”, que conta a história de um menino com limitação visual e muito criativo. Ele estuda em uma escola onde tem quatro outros amigos, também crianças. São inseparáveis. Como grande parte das crianças, ele imagina momentos onde, junto com seu grupo, são heróis e salvam as pessoas. É bem bonitinho, simples e aborda questões como a realidade das escolas, dos desafios vividos por profissionais da área de Educação e, também, dos desafios das crianças, onde parte delas possui diagnósticos e limitações bastante desafiadoras e reais.
VF – E seus livros? Você é membro da Academia Volta-redondense de Letras. Como é o mundo literário para você?
RH – Vamos lá porque são assuntos diferentes. Escrevi meus livros sem pretensão de publicá-los. Era mais um desabafo criativo do que qualquer outra coisa. Apenas meu irmão sabia que os livros existiam. Decidi publicar o primeiro quando já estava escrevendo o quarto. São oriundos da minha vida pessoal, social e recheados de temas universais. Não imaginei que eles fariam o estrondo que fizeram e a reação emocionada das pessoas me fez ir parar na terapia porque eu não esperava aquilo tudo (risos). Já para a Academia Volta-redondense de Letras fui selecionado em abril de 2021, com a posse acontecendo apenas em novembro de 2022, por causa da pandemia. Embora tenha escrito livros de poemas, não me considero poeta. Até porque olho a escrita poética dos outros e sempre vejo o quanto são grandiosos e que tenho muito a exercitar para melhorar. Mas escrevo com sinceridade e talvez isso que toque tanto as pessoas.
VF – Mais algum livro vindo por aí?
RH – Tem um romance. Podemos classificar assim. É baseado em uma série que escrevi para a televisão em 2010 e não considerei a negociação válida. Então engavetei. Agora virá como livro. Um mistério sobre telefonemas anônimos que levam a protagonista à internação. Vai mexer com as emoções de quem estiver lendo.
VF – Sobre emoções. “A Última Carta” trouxe você de volta aos palcos e foi retratado com muita emoção na imprensa. Qual tema? Está em turnê?
RH – Tivemos que parar a turnê para produzirmos o mais recente festival de teatro do Estudarte. Em seguida descobri que a parte superior do meu estômago atravessou meu diafragma, atingindo diretamente meu fôlego e dificultando algumas entonações. Estou tratando para voltarmos em breve. É uma peça dirigida por Maycon Lendel, que foi quem me convenceu de voltar a atuar. Fala de lembranças. Muitas alegres e outras nem tanto. É diretamente uma reflexão da personagem sobre cada situação. Algo simples e muito bonito. Sempre desembocando em saudade. Quantas vezes sentimos saudade porque não perdoamos, não nos perdoamos ou não demos valor enquanto era tempo? Quantas vezes a saudade nos machuca porque antes não tomamos atitudes que poderiam evita-la?
VF – Qualquer pessoa ficaria pensando sobre isso! Teria alguma mensagem para deixar para nossos leitores?
RH – Claro! Se você tivesse uma última chance de se comunicar, com o sentimento de saudade ou perdão e, a única forma fosse através de carta, para quem você enviaria sua última carta?
Foto de capa: Jana Machado